Como toda criança adorava brincar com os meus amigos e desenhar. Tenho uma vaga lembrança de momentos em que desenhava e em algumas situações alguém comentava sobre os meus traços.
Durante todo o período escolar me destaquei pela aptidão com os números, mas em paralelo as cores chamavam a minha atenção. Mas não era o colorido do lápis, o giz de cera ou as canetinhas. Sempre foi a tinta. A substância tinta. Sua textura. O seu colorido. A diversidade de tons. O contato do pigmento com o pincel.
Sempre foi uma atração inexplicável, pois o interesse se florescia a cada dia, mesmo sem nunca ter tocado ou visto de perto. Aliás, posso ter mexido com tinta em algum momento quando criança, mas juro, não tenho memórias dessa possível vivência.
Decidi cursar Engenharia devido minha habilidade com a soma, subtração, multiplicação e divisão. Mas mesmo com essa característica que me acompanhou durante todo esse tempo, não me permiti somar as tintas com o pincel se multiplicando em obras e emoções, subtrair um pouco a racionalidade dividindo o meu tempo entre os compromissos e o sonho de menina. Qual o motivo disso? Não sei. Talvez o receio do desconhecido ou simplesmente o fato de não ser a hora certa.
Me formei em Engenharia de Produção, mas anteriormente cursei 2 anos de Engenharia de Energia. Nesse período de transição me vi e senti entrelaçada com as cores e pincéis. Era um magnetismo que me puxava, me fazia desejar mergulhar no mar dos tons, mas ao mesmo tempo me engasgava pelo desconhecido.
Talvez o famoso ‘lado esquerdo’ do meu cérebro estivesse mais ativo naquele momento, acentuando o meu pensamento racional e fortalecendo a ideia de concluir a minha graduação na área de exatas.
Já o lado direito, não se dando por vencido e aguçando ainda mais o meu sonho, me intuiu a encher um cofrinho com moedas de 0,50 e 1 real que recebia de troco, com o objetivo de gastar apenas com material de pintura os aproximados R$500,00 juntados.
No meu penúltimo ano de Engenharia comecei a dar as primeiras pinceladas sobre papel artístico. Depois de 1 ano pintando nas horas vagas em meio ao turbilhão de trabalho e faculdade, comecei a apreciar o que criava, o que meu coração demonstrava através das formas e o que minha inspiração transmitia com as cores. No final do segundo ano em contato com a arte, me tornei Engenheira de Produção.
Nesse momento compreendi melhor do que qualquer outra experiência já vivida a diferença entre SER e SENTIR.
Eu era uma engenheira, mas me via todos os dias pela manhã arrumando meu material de trabalho: separando as tintas e pincéis. Eu era uma engenheira, mas me via acordando durante a madrugada para trabalhar: pois a inspiração não marca horário para atuar. Eu era uma engenheira, mas via o meu chefe ser o meu melhor amigo, a minha melhor companhia, nada mais, nada menos do que a criança que expandiu o meu Eu através do seu sonho, liderando as minhas pinceladas, os tons a serem utilizados e o poema da vida.
Hoje, no momento certo, somei o SER com o SENTIR, subtrai os receios, multipliquei as cores e divido com vocês a minha história, os caminhos que percorri para me encontrar e permitir viver o que na verdade sempre esteve em mim.
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